Antonio Marcelo Pacheco Carta às ruas do meu país:
Tenho sido complacente com todos os que afirmam que as manifestações
populares nos últimos dias representam ora uma ameaça fascista, ora uma
desculpa para o retorno de uma forma de ditadura. Tenho me mantido
paciente com as críticas dos que se sentem incomodados pelo fato de que
rotineiramente as ruas têm sido ocupadas, transtornadas, inundadas pela
indignação, pelo caos, pela desordem, pela louca e apaixonante, ainda
que ingênua tentativa de manter o movimento social apartidário, mas
profundamente político. Tenho, até mesmo, me mantido silencioso aos que
reclamam quando não podem ir e vir conforme o que está dito na
Constituição pela irresignada ocupação dos espaços públicos, nem sempre
ocupados de forma pacífica, mas necessariamente ocupados.
Mas,
basta! É imperativo discordar e denunciar não só a soberba, a presunção e
a pretensão de um governo, de um partido, de um parlamento que não
compreendeu ainda que não somos gado para sermos conduzidos ao pasto;
basta de um ex-presidente que covardemente se manteve silencioso,
anônimo, covarde, cúmplice de um partido que é responsável por muito
deste problemas que assolam o país, que tem no governador do estado do
Rio Grande do Sul alguém que elogia a atuação truculenta da polícia
militar, da ação da P2, grupo de inteligência que se infiltra no
movimento popular e que junto com todos os marginais, vândalos e
irracionais que buscam desesperadamente distorcer o nosso direito
sagrado à manifestação, um representante de um tipo de sujeito político
que acostumou-se a mentir, a enganar, a prometer e a esquecer, embalado
pelo sabor da impunidade e do menosprezo ao olhar do povo, este conceito
sem sentido, sem definição, quase um cuspe na boca de demagogos, mas
que ao sair às ruas tem transformado desordem em mudança, desilusão em
expectativa, medo em ação.
Muitos intelectuais, jornalistas e
senhores da informação olham de seus gabinetes, a partir de suas teorias
e presunções de análise o movimento como mero modismo, como resultante
da superficialidade da mídia virtual, das redes que permitem a
construção desses sujeitos indefinidos. Associando o que está
acontecendo a um rastilho de pólvora que o tempo vai se encarregar em
apagar para que em sua perspicácia cognitiva possam afirmar que já
sabiam e que já havia alertado que no fundo, nada seria realmente
modificado.
Basta! Basta de tantas pretensões acadêmicas que olham
com ternura e pena para o que ocorre nas ruas, percebendo-as como apenas
ações de jovens sem formação ou sem informação. Basta! Basta de um
presidente da república que é uma caricatura destes 25 anos em que nos
últimos 12 anos nos transformamos em um país assistencialista e que
pretende, agora, criar uma estratégia estapafúrdia, circense e burlesca
de plebiscito e de convocação para uma assembleia nacional constituinte.
Basta de um ex-presidente, transformado em produto de propaganda, que
covardemente se mantém anônimo, que quando convém busca tirar para si
partido do acontece, apresentando-se ora como líder, ora como covarde na
hora certa. Não interessa que a maioria dos manifestantes não tivessem
conhecimento sobre o que realmente queria dizer a PEC37, afinal, o país
vem sendo conduzido por doutores que parecem também não compreender
sobre economia, corrupção, consumo e inflação.
Não interessa que a
maioria não tem uma pauta clara de reivindicações, mas reconhece que o
conflitos não é por centavos de uma passagem de ônibus, até porque
centavos dia a dia se transformam ao fim de um ano em um valor muito
mais significativo do que querem transformar a luta pelo transporte
público mais barato e digno.
É isto! Basta de tanta indignidade.
Chega de pessoas morrendo em hospitais, em filas, na busca por senhas,
de professores mal pagos, de alunos mal educados, de universidade
sucateadas, de ensino mercantilizado, de desvios de dinheiro, de
corrupção generalizada, de uma violência que permite a alguém afirmar
que as UPPs funcionam e pacificaram as favelas, de que o narcotraficante
é o único responsável pela violência, assim como os menores de 18 anos,
assim como uma violência que mata 50.000 pessoas no Brasil por ano,
pela inexplicável violência no trânsito, pelo descaso com o consumidor,
enfim, basta de acharem que somos gado.
Quero respeito, não de uma
Dilma, não de um Lula, não de um José Dirceu, não de um Renan Calheiros,
não de um Feliciano, não de um Sarney ou de um Fernando Collor e
Henrique, não dos partidos, nem das centrais sindicais: quero respeito
por aquilo que tenho que conquistar, que preciso lutar por mim mesmo ao
lado daquele outro anônimo que na rua está ao meu lado, buscando em mim o
que ele nunca encontrou, solidariedade, fraternidade entre irmãos do
desespero que é sobreviver neste país que nos condena e critica quando
estamos pastando e que nos condena e critica quando saímos às ruas para
gritas basta!
Aviso aos petistas, aos governistas, a brigada
militar, a imprensa e aos acomodados bem como aos covardes: meu corpo,
minha alma e minha consciência me pertencem e hoje, meu corpo, alma e
consciência pertencem as ruas num grito de basta, pois não é possível
que pensem que será para sempre a certeza de que podem me enganar,
mentindo e repetindo mentiras que esperam que eu as transforme em
verdades.
Sou um anônimo, sou um ninguém e é por isso que vocês
precisam me temer: porque sou, no fundo, membro de um povo que de tantos
ninguém, cansados de sobreviver, finalmente têm a chance de se
transformarem em alguém. Se a luta nas ruas aparentemente der em nada,
repito, é aparentemente, pois já vencemos, pois em alguns eternos
segundos, minutos ou horas elas foram nossas e com elas, a história e o
nosso destino nos pertenceu. Isso, nem a Dilma, nem o Lula, nem a
brigada militar, nem a imprensa, nem os acovardados e os parlamentares
de todas as matizes podem nos roubar: nossa história, nossa dignidade,
nossa desordem, nossa irresignada vontade de gritar Basta nos pertence,
hoje, amanhã e sempre!
Brasil: Basta!!!!!!
#Exatamente o que sempre acreditei!! Professor Antonio Marcelo Pacheco o Sr me representa !!!
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